O estudo detalhado do material é muito importante em Arteterapia. Cada um em particular, tem propriedades que mobilizam emoções e sentimentos de maneiras diversificadas a cada indivíduo.
É necessário que o terapeuta analise o valor terapêutico do material para cada cliente, pois podem penetrar de maneira mais rápida e em particular nos conflitos internos e inconscientes do indivíduo.
1 Desenho
Podem ser utilizados o giz de cera, pastel a óleo, pastel seco, lápis de cor, lápis de cor aquarelado, hidrocor, carvão e lápis grafite. Todos tem significado terapêuticos semelhantes.
No desenho, a coordenação motora fina é bastante trabalhada, portanto o controle é essencial, não só o motor, mas principalmente o intelectual. A atenção, a concentração e o contato com a realidade são explorados.
O desenho de cópia, enfoca a atenção na realidade exterior, e é indicado em pessoas que fantasiam, sonham, obrigando-as a perceber e reproduzir a realidade tal como ela é. A imensa dificuldade que encontram em reproduzir, não é só o medo de errar, é a própria dificuldade de dar direcionamento em sua vida. É indicado para pessoas dispersas, sonhadoras, confusas e adolescentes.
No desenho livre, as pessoas entram em contato com sua realidade interna, deixando fluir conteúdos que estejam ao ponto de emergir.
Nos desenhos dirigidos, aqueles feitos a partir de um tema que o Arteterapeuta escolhe, os indivíduos entram em contato com sua realidade, mobilizando emoções bloqueadas que precisam vir à tona. Indicados para pessoas deprimidas, com tônus vital rebaixado.
Quando preferimos os desenhos monocromáticos, trabalhamos com emoções superficiais, a nível periférico; e quando utilizamos o colorido, lidamos com os profundos. Não é necessária análise do desenho, e sim a análise da interpretação do indivíduo com relação ao feito.
2 Pintura
Quando a pintura flui, fluem ali, emoções e sentimentos, expressados. A esfera afetivo emocional está mais abrangente, pois as pinceladas lembram o fluxo respiratório, a vida. As tintas geralmente utilizadas são: guache, aquarela, anilina, óleo, acrílica e nanquim.
A tinta guache exige maior controle de movimentos, libera emoções e incentiva a imaginação. Quanto mais densa, mas controle dependerá.
A aquarela, devido a sua leveza, e o uso obrigatório da água, mobiliza ainda mais o lado afetivo. Indicada para pessoas muito racionais e com dificuldade afetiva. Contra indicada para deprimidos.
Devido a dificuldade de fazer figuras por ser muito aguda, a anilina é ótima para pessoas que tem medo de perder o controle das coisas.
Exige mais controle dos braços no traçado.
A tinta óleo, é recomendada para pessoas com depressão, pois possibilita maior equilíbrio da situação.
O nanquim, quando puro é de fácil controle, mas exige agilidade e sensibilidade. Quando usado com água, é mais fluída, exigindo muito mais habilidade, atenção e concentração.
Quanto mais expressão, mais auto conhecimento e mais autoconfiança. A pintura, assim como o desenho, pode ser livre, de cópia, ou dirigida.
Com a pintura, trabalha-se a estruturação e a área afetiva emocional, chegando ao equilíbrio das emoções. E quanto mais diluída for a tinta, mais emocional é o resultado.
3 Modelagem
A modelagem pode ser feita com massa caseira, argila, biscuit, cera de abelha, plasticina, papel machê e massa de modelar. O efeito da modelagem atua nas sensações físicas (leva ao relaxamento) e viscerais, como também no sentimento e cognição. A técnica exige uma canalização de energia adequada, por partir do nada para a criação de algo podendo ser livre ou dirigida. Pessoas rígidas ou ansiosas, tem ganhos muito grandes.
A sensação de estar em contato com o barro, pode ser muito gratificante ou não. A argila age como transformadora, de um estado de desencontro para um estado de equilíbrio, podendo trazer à tona conflitos internos indesejáveis. Por ser moldável, integra o ser com o mundo exterior, mostrando-o que pode adaptar-se às situações, sendo fluida, recebe projeções e é dominada, favorecendo ao manipulador, a libertação das tensões, fadigas e depressões, pois é um material vivo e de ação calmante.
No físico, trabalha questões ligadas a estruturação e coordenação motora. No emocional mobiliza sentimentos e emoções primitivas, para que possam ser conhecidas e trabalhadas.
Nos casos de negação e resistência à argila, oferta-se o papel machê ou a massa de farinha de trigo, pois de início não devemos forçar, e com a adaptação a estes recursos, aos poucos inclui-se o barro.
O papel machê é um material frio e viscoso, mas que também nos oferece retornos, pois podemos moldá-lo e criar, não chegando aos efeitos da argila, por não ser um produto natural primitivo.
A massa de farinha de trigo e sal, é feita pelo próprio terapeuta, com ou sem ajuda do paciente, variando cores. E ao contrário do papel machê, é utilizada estando morna, para melhor manuseio. Em termos terapêuticos, pode levar os adultos, a recordações maternas, ou da infância. Proporciona também a capacidade criadora, auto-estima, catarse emocional, auto-confiança e auto domínio.
4 Construção
É a mais complexa, pois apresente diversos materiais expressivos, diferentes energias sendo disponibilizadas, disponibilizando uma elaboração cognitiva maior para estrutura-ló. Só é indicada na terapia depois que o cliente já experimentos outros materiais.
Uma diferença importante entre as outras é que esta é tridimensional, trabalhando diversas noções entre peso, tamanho, forma, posição e espaço. No tamanho podemos perceber profundidade, comprimento, largura e volume; nas relações espaciais temos vertical, horizontal e o transversal; suas texturas são foscas, polidas, chapiscadas, asperas, lisas, enfim a um universo de coisas a serem percebidas. A construção pode ser vista de diversos angulos e distancias, dependendo do tamanho como se apresenta.
Verificamos o eixo de EQUILÍBRIO do cliente na confecção da construção sermos os facilitadores para que este perceba sua estrutura emocional, diante de seus erros e acertos, pois a materialidade neste caso apontará suas dificuldades, não só externas do manuseio, mas de conteúdos internos. Estruturar sua construção é reorganizar, se conscientizar, poder mudar o que esta dentro, buscando harmonia não só fora, mas principalmente dentro.
É um processo de auto conhecimento que envolve edificação, integração, composição, coordenação, equilíbrio, construção, reconstrução e agregação dos materiais reunidos.
Cabe ao arteterapeuta prestar bastante atenção na construção de seu cliente: de onde começou, como juntou as partes, se precisou da ajuda do terapeuta, se fez ou desfez uma parte do processo, qual parte junta que esta mais presa, qual é mais facil de se desfazer, descolar... enfim não são só aquelas questões que vemos com os outros materiais.
O trabalho com a sucata estimula a reconstrução, a criatividade, as percepções, a atenção, a construção, a transformação, o concreto e a mudança.
É um material transformador, pois dá-se uma nova utilidade ao que antes era lixo. É a mudança através do concreto, é a busca de possibilidades de transformação e do reaproveitamento.
Por poder aliá-lo a pintura, a colagem e a modelagem, é uma atividade rica e complexa, que mobiliza o conteúdo interno, e já transforma-o, reaproveitando-o de forma benéfica. O terapeuta deve ficar atento, para que nenhum detalhe escape, pois é um trabalho de muita sutileza.
Materiais diversos devem ser utilizados ( plásticos, vidros, papéis, madeira, tecidos) de forma livre ou dirigida.
5 Colagem
“A colagem propicia um campo simbólico de infinitas possibilidades de estruturação, integração, organização espacial e descoberta de novas configurações. É instigante como um mapa do tesouro, pois as informações estão ali desde o princípio, embora, num primeiro momento, nem sempre consigamos decifrar os códigos em que estes mapas estão cifrados” (Philippini, 2009, p. 24)
É uma atividade estruturante que pode ser realizada com materiais diversos: recortes de revistas, jornais, pedaços de papéis coloridos, diversos grãos, serragem, cortiça, purpurina, tecidos...
Nesta atividade, o cliente busca nos materiais, idéias que possam expressar e comunicar seus sentimentos, emoções e idéias em relação ao tema. O planejamento, o direcionamento, e a atenção do paciente, ajudam na estruturação de sua vida.
É um recurso rico, pois o indivíduo planeja, analisa, fica atento, concentrado, organizado e paciente.
A colagem propicia estruturação, integração, organizações e descobertas de novas configurações. Além de ser bem grande os inúmeros materiais que podem ser usados, está em questão as imagens, a relação entre as figuras e como se relacionam entre si, pela presença de polaridades cromáticas, a posição e ocupação sobre o suporte e o movimento.
6 - FOTOGRAFIA (FOTO = LUZ + GRAFIA = ESCRITA)
Fotografia (congelamento do tempo) é uma imagem arquetípica da persona e a posse da imagem é o ato símbolico de apreciação do próprio ser, o que vale a pena olhar. Manifestação do sagrado.
Recurso expressivo do qual pode ser ampliado ou transformado por outros materiais, podendo ser acompanhado de pintura e colagem, por exemplo, para mais clareza do campo simbólico sobre algo registrado pela luz.
Uma outra forma de trabalhar com fotos e de forma bem lúdica é a criação e dramatização de personagens para serem fotografados. Forma de inundação dos conteúdos inconscientes átraves de figurinos e adereços. Resgatando a auto imagem, resgatando a própria identidade, a auto estima.
A emoção cristalizada na fotografia é uma pista de dados sobre "o ontem, tão hoje", pois se traz no presente é porque aquela emoção de alguma forma ainda está ali presente, ainda que o cliente não tenha consciencia muitas vezes, imaginando que o já, não é mais.
É importante é o relato do fato, o que suscita na mente e no coração de cada observador. Quem tirou? Por que tirou? Onde e quando foi feita? O que significa? Que questões e sentimentos suscitam?
Trabalho para expressar e reviver afetos, através da memória afetiva resgatando uma via eficaz de comunicação, recuperando percursos cronológicos e existenciais.
Referencia Bibliográfica
Philippini, Angela, Linguagem e Materiais Expressivos em Arteterapia: Uso, Indicações e Linguagens e Propriedades. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2009.
Philippini, Angela, Arteterapia: Métodos, Projetos e Processos. 2ª ed, Rio de Janeiro: Wak Ed., 2009