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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

FILMES E A ARTETERAPIA



COLCHA DE RETALHOS: A ARTE QUE CURA.


O filme lançado em 1995 nos Estados Unidos, relata o universo feminino de costureiras e suas histórias interiores e exteriores.

Finn é uma jovem que tem dificuldades de fazer escolhas que está em um momento importante da sua vida: está prestes a se casar e acabar sua tese de mestrado (do qual mudou de tema algumas vezes) de mulheres de diferentes culturas que fazem trabalhos artesanais. Mas não tem tanta certeza de que realmente quer se casar.

Diante desses momentos resolve ir para a casa de sua avó Jaci e sua tia Gladi por trêis meses. Lá as 7 mulheres se reúnem por ano e tecem uma colcha de retalhos e o tema escolhido para este ano foi "Onde Mora o Amor?", sendo um presente de todas para seu casamento.

A confecção da colcha foi arteterapeuticamente falando um caminho saudável para aquelas mulheres reencontarem, elaborarem e assim transformar suas histórias, repletas de símbolos e afetos vivenciadas por cada uma.

Ao tecer a colcha  as mulheres tecem suas histórias de amores. Sua mãe passou uma imagem negativa sobre o casamento do qual influenciou Finn a ter dificuldade, lá ela ouve outras histórias que de alguma forma a influenciam para fazer escolhas em sua vida e inclusive de sua própria mãe, que se arrepende da forma como pensava sobre o casamento.

Uma das histórias permeiam ss irmãs (avó e tia de Finn) que contam a história de traição que aconteceu quando sua avó estava passando por um momento difícil com o marido internado se envolvendo com o marido da irmã do qual era próximo. A irmã em atitudes de dores ao descobrir quebra vários objetos, dos quais depois de quebrados são reconstruídos como um grande mosaico de cacos (pedaços quebrados) nas paredes de sua casa. A colcha permitiu que Gladi falasse, relembra-se sua dor, colocasse ali na colcha a reconstrução de sua história e assim se livrasse dela, pois o filme mostra a irmã quebrando o que havia construído da parede através de sua dor, mostrando que havia passado aquela história, estava curada dela.

"Os jovens amantes procuram a perfeição, velhos amantes aprendem a arte de unir retalhos e descobrem a beleza na variedade das peças...". (trecho do dialogo do filme)


Houve uma ventania (representado a confusão interior que Finn estava passando), onde sua tese toda vôou, lhe deixando a opção de refazer uma nova história ou recolher as partes dela e construí-lá de novo. Representando sua relação de infidelidade com um jovem da cidade que lhe oferece morangos símbolo da paixão proibida.
O símbolo do corvo também está presente na história de Ana, mais uma bordadeira, representando a garra e a perseverança da mulher negra. Quase chegando ao final da história o corvo retorna só que na vida de Finn com a mesma função da história que teve em Ana, de mostrar seu verdadeiro amor, seu noivo de que escolhe ficar.
Que alias ambos são envolvidas pela colcha mostrando na vida dela onde o amor mora.



UM BREVE RELATO PESSOAL

O filme estava começando quando meu marido ao ver este ia iniciar sentou ao meu lado e começou a ve-ló também. Confesso que não o chamei por achar que ele não ia interessar-se por um filme que mostrasse tanto o universo feminino. Porém esqueci que meu marido tem seu lado anima sensivel e ao meu lado permaneceu até o fim da história.
Sensibilizada com o filme o abracei, pois lembrei da nossa história de amor desde quando nossa amizade surgiu dentro do carro numa viagem com amigos em comum, ao lembrar do inicio de nossa história até hoje, vi quantas coisas passamos juntos, evoluímos... enfim e abraçados comecei a chorar...
Ele também tocado pelo filme começou a chorar também (por essa não esperava), só que motivado pela parte que não pensei (uma continuação),  pois ele nos imaginou idosos juntos e olhando nossa história.
E aí ficamos um tempo juntos rindo e ao mesmo tempo chorando, que imagem linda e gostosa! Choros de alegria!
Essa questão de histórias de amores no filme realmente nos sensibilizou...

A IMPORTANCIA DA ESCRITA CRIATIVA: UM OLHAR ARTETERAPEUTICO SOBRE O FILME “O CARTEIRO E O POETA”.

 

Procura da Poesia


Carlos Drummond de Andrade


"...Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.


Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?..."



     Mário, um homem diferente daqueles que habitavam na pacata ilha da Itália. Ilha enganada pelos políticos, ilha povoada por moradores na sua maioria de analfabetos e pescadores. Um povo conformado e um homem diferente que sonhava com um lugar diferente daquele. Simples, espontâneo e com sonhos.
      A ilha estava para receber um famoso poeta do Chile, que resolveu ir para lá por causa da ditadura em seu país. O noticiário que anuncia chama a atenção de Mário, pois por ser poeta, ele mexia com o imaginário feminino e atraia muitas mulheres, pois o poeta é nada mais que um homem sensível que é afetado pela poesia e com ela afeta seu próximo.
     Mário sobre pressão do pai vai à busca de um emprego e consegue o de carteiro exclusivo do poeta Neruda. O que realmente iria fazer a diferença em sua vida não eram as gorjetas que ia ganhar, Mário sabia que seu ganho poderia ser maior com o poeta, pois almejava conquistar as mulheres.
"Quando você vai até um mestre, você o olha do ponto de vista de sua mente. Se as coisas se encaixam, você fica feliz; você começa a se apegar. Mas isso não vai te ajudar -- porque as coisas se encaixam, isso vai fortalecer o mesmo estado mental que você trouxe consigo. Se por acaso você cruzar com um mestre... verdadeiro, nada irá se encaixar. Ele vai perturbar todas suas idéias sobre como um mestre deve ser; ele vai te sabotar. Ele vai te tirar todas suas expectativas. Ele vai te frustrar e te decepcionar de todas as formas possíveis -- porque essa é a única forma do trabalho real começar. E se você ainda conseguir ficar com esse mestre, então... Então você acordará."(OSHO)

     Mário aproveita-se do cargo para se aproximar como amigo do poeta para assim aprender como obter esse sucesso com as mulheres. O carteiro via que as cartas que Pablo recebia eram de mulheres e resolve ser poeta, começando a ler sobre as poesias de Neruda. Pablo a principio não dá muita atenção, até porque sua motivação não estava baseada em sentimentos e sim no interesse com as mulheres.
      Mário chegava a casa do poeta de uma forma muito sensível, sutil parecendo não querer atrapalhar o processo criativo, ele dava importância ao ato de criar. Numa dessas vindas, percebeu que Pablo tinha uma relação intensa com sua esposa.
   A ida do poeta aquela ilha sem novidades, influenciou com grande importância a escrita na vida do carteiro, era a mudança que Mário tanto desejava, pois mudaria a si mesmo, sua forma de ver o mundo e tudo mais ao seu redor. O que o encantava não era o homem poeta, mas o efeito de suas ferramentas, as palavras. O quanto o ouvir aquelas poesias lhe trazia algo de novo (o encontro com ele mesmo).
O Ser Criativo
Mário: “Como me torno poeta?”
Neruda: “Vá caminhando pela baía e observe tudo”.
     "Você quer dizer que o mundo todo, o mar, o céu com a chuva, as nuvens... o mundo todo é, todo ele, metáfora de alguma outra coisa?"
     E assim começa o verdadeiro ofício de Mário.
     Mário não tinha conhecimento técnico ou teórico sobre a construção da poesia, inicialmente sente dificuldade em colocar no papel sua auto expressão, mostrando assim seu bloqueio criativo na poesia que sonha fazer, mas sempre observou as coisas e isto o auxilia na intuição da construção da poesia, de pequenas coisas, de observar a beleza que a ilha tem, pois já tinha imaginação e sensibilidade (o saber sensível) o suficiente para servir de base poética.
“...escrever para compreender a si mesmo, pois as palavras guardam em sua essência imagens diversas, que podem surgir em associações livres, produtos da singularidade e da subjetividade de cada um.”(PHILIPPINI, p. 111)
     Mário se apaixona e através do encantamento sente a necessidade e motivação para  expressa-se, tornando-se um homem livre, colocando para fora suas questões emocionais, seu psiquismo, seu eu verdadeiro, chamado por Jung de Self e então com a motivação que o poeta considera certa dispõe-se a ajudá-lo.  Agora sim, Mário está realmente na trilha do seu caminho tornando-se poeta. Sua espontaneidade, sua simplicidade facilitam em sua escrita poética, escrita criativa, onde encontra um fluir que lhe traz prazer e expressão, ganhando asas para voar onde sua imaginação o levasse. Aprende o que é e a importância da metáfora na poesia e através dela começa a expressar-se ao ponto de ganhar quem desejava, Beatrice, sua amada. Com a metáfora podemos trabalhar a relação do inconsciente e consciente de forma lúdica com os significados e com a subjetividade.
     Neruda admira a potencialidade criativa de Mário chegando até mesmo a pedir sugestões para novos poemas. 
     Albert Einstein disse certa vez que “a imaginação é mais importante que o conhecimento”. Através desta expressão poética, Mário passa a trilhar seu caminho de individuação, tem sua vida modificada, com outro sentido. Vera Lucia Paes de Almeida diz que o processo de individuação é um processo poético e envolve um constante encantamento com a vida. Este encantamento, segundo a autora, provém de um contato com o invisível, com o inconsciente. Para ela, fazer a ligação entre o visível e o invisível é manter a conexão ego-self; é encontrar no cotidiano o significado simbólico que torna cada sujeito único e especial. Há algo de fundamental nesse contexto: a relação entre homem e mulher fica exclusivamente mediada pela linguagem. É como se o carteiro pudesse dizer: "Só a metáfora atinge a mulher". 
“Quem, eventualmente, poeta não é, cria o quê? Se alguém não tem mesmo nada para criar, pode talvez criar a si mesmo”. (C.G. Jung)
     No processo de individuação Mário começa a compreender a si mesmo, a desenvolver seus potenciais, a sua autoestima e sua relação com as pessoas torna-se mais harmoniosa e autêntica. Ele não tem mais vergonha de ser quem ele é, sente-se valorizado, amado. O antigo Mário que estava acostumado a não reagir às injustiças, como na cena em que Neruda descobre a falta água na ilha e pergunta ao carteiro porque eles (a comunidade) não protestavam contra isso e ele respondeu: “E dizer o quê?” modifica agora sua postura a partir do seu encontro com a poesia. Um pouco mais tarde no filme, ao observar compradores negociando com pescadores por um preço mais baixo, Mário interfere, dizendo que eles parem de barganhar com os pobres, que barganhem com quem tem mais do que eles.
     Assim, podemos perceber que um novo homem estava sendo construído, sendo transformado em vários aspectos de sua vida: afetiva, intelectual, social...
     Beatrice e Mário se casam e Neruda é o padrinho de seu casamento. Neruda volta para o Chile. Mário e os moradores da ilha passam bastante tempo esperando uma carta pessoal do poeta chileno, mas esta não chega.
“A palavra é uma isca para pegar aquilo que é “não palavra” e quando conseguimos, a palavra cumpriu sua missão...” (Clarice Lispector)
     Mário, então, grava uma fita para Pablo, onde descreve os seus lugares prediletos da ilha (interação entre o campo simbólico de imagens e palavras), como Neruda o havia pedido certa vez, e ele apenas conseguia dizer o nome de sua amada Beatrice. Mário concretiza a sua obra poética ao gravar a fita para o Pablo Neruda, descrevendo os sons e as imagens da sua ilha. Sua forma particular de ver e viver nesse lugar.
     Mário, inspirado pelo Pablo Neruda, envolve-se com o movimento comunista, mas, ao que o filme indica, ele se envolve como poeta, pois vai à manifestação política para declamar o seu primeiro e único poema (“Canção para Neruda”), mas acaba morrendo num tumulto causado pela repressão policial, antes mesmo de ler o poema.
     O filme dá um salto no tempo e mostra a volta de Neruda à ilha, anos depois, com o filho de Mário e Beatrice (Pablito) já crescido. Neruda finalmente recebe de Beatrice o valioso presente que Mário havia deixado: sua descrição peculiar e sensível das belezas da ilha.
    
     Toda palavra é símbolo e foi através da palavra em forma de poesia que o carteiro experimentou o poder de transformar-se pelo símbolo aspectos de sua vida, transformando assim sua essência de uma forma bem natural. A salvação da palavra para o encontro com o seu SELF, criando poesias para viver situações, concretizando vários aspectos subjetivos e biográficos incluindo seus aspectos universais como os arquétipos, que precisam vim à tona para serem resolvidos, aceitados e trabalhados, como o uso do material plástico em um atendimento em arteterapia.

“E foi naquela época...
A poesia chegou me procurando.
Eu não sei, não sei de onde ela veio,
se de um inverno ou de um rio.
Eu não sei como nem quando.
Não, não eram vozes,
não eram palavras, nem silêncio;
mas de uma rua eu fui chamado abruptamente
dos ramos da noite, dos outros,
no meio de um tiroteio violento,
e num retorno solitário lá estava eu
sem um rosto... e ela me tocou.”
Pablo Neruda

*Indicado pela professora de Escrita Criativa da Clínica Pomar Márcia Vasconcellos em um dos seus trabalhos passados para turma da PG 12, do qual pertenço.





4 comentários:

  1. Belo filme, excelente post, Roberta, bj.

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  2. Fico feliz por seu comentário, " O carteiro e o Poeta" a princípio parece ser só mais um filme... porém a sua história nos toca...
    Beijão

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  3. Compartilho com você a emoção de ter assistido esse filme.A arte tem a função de abrir os nossos olhos e coração para a vida.Nessa nossa caminhada rumo à individuação,a arte é instrumento certo.O carteiro passou por uma transformação profunda quando provou da poesia.Passou a perceber a si mesmo,o outro e o mundo em que vivia.É disso que precisamos:percorrermos esse longo caminho de encontros e desencontros e sairmos transformados.
    Um grande abraço,querida.
    E paz sempre.
    Lidia de Jesus

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  4. Querida e companheira,
    obrigada por seu conhecimento e sua contribuição aqui deixados.
    Participe sempre! Sua opinião é muito importante para mim!
    Grande beijo!

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