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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

FILMES E A ARTETERAPIA



COLCHA DE RETALHOS: A ARTE QUE CURA.


O filme lançado em 1995 nos Estados Unidos, relata o universo feminino de costureiras e suas histórias interiores e exteriores.

Finn é uma jovem que tem dificuldades de fazer escolhas que está em um momento importante da sua vida: está prestes a se casar e acabar sua tese de mestrado (do qual mudou de tema algumas vezes) de mulheres de diferentes culturas que fazem trabalhos artesanais. Mas não tem tanta certeza de que realmente quer se casar.

Diante desses momentos resolve ir para a casa de sua avó Jaci e sua tia Gladi por trêis meses. Lá as 7 mulheres se reúnem por ano e tecem uma colcha de retalhos e o tema escolhido para este ano foi "Onde Mora o Amor?", sendo um presente de todas para seu casamento.

A confecção da colcha foi arteterapeuticamente falando um caminho saudável para aquelas mulheres reencontarem, elaborarem e assim transformar suas histórias, repletas de símbolos e afetos vivenciadas por cada uma.

Ao tecer a colcha  as mulheres tecem suas histórias de amores. Sua mãe passou uma imagem negativa sobre o casamento do qual influenciou Finn a ter dificuldade, lá ela ouve outras histórias que de alguma forma a influenciam para fazer escolhas em sua vida e inclusive de sua própria mãe, que se arrepende da forma como pensava sobre o casamento.

Uma das histórias permeiam ss irmãs (avó e tia de Finn) que contam a história de traição que aconteceu quando sua avó estava passando por um momento difícil com o marido internado se envolvendo com o marido da irmã do qual era próximo. A irmã em atitudes de dores ao descobrir quebra vários objetos, dos quais depois de quebrados são reconstruídos como um grande mosaico de cacos (pedaços quebrados) nas paredes de sua casa. A colcha permitiu que Gladi falasse, relembra-se sua dor, colocasse ali na colcha a reconstrução de sua história e assim se livrasse dela, pois o filme mostra a irmã quebrando o que havia construído da parede através de sua dor, mostrando que havia passado aquela história, estava curada dela.

"Os jovens amantes procuram a perfeição, velhos amantes aprendem a arte de unir retalhos e descobrem a beleza na variedade das peças...". (trecho do dialogo do filme)


Houve uma ventania (representado a confusão interior que Finn estava passando), onde sua tese toda vôou, lhe deixando a opção de refazer uma nova história ou recolher as partes dela e construí-lá de novo. Representando sua relação de infidelidade com um jovem da cidade que lhe oferece morangos símbolo da paixão proibida.
O símbolo do corvo também está presente na história de Ana, mais uma bordadeira, representando a garra e a perseverança da mulher negra. Quase chegando ao final da história o corvo retorna só que na vida de Finn com a mesma função da história que teve em Ana, de mostrar seu verdadeiro amor, seu noivo de que escolhe ficar.
Que alias ambos são envolvidas pela colcha mostrando na vida dela onde o amor mora.



UM BREVE RELATO PESSOAL

O filme estava começando quando meu marido ao ver este ia iniciar sentou ao meu lado e começou a ve-ló também. Confesso que não o chamei por achar que ele não ia interessar-se por um filme que mostrasse tanto o universo feminino. Porém esqueci que meu marido tem seu lado anima sensivel e ao meu lado permaneceu até o fim da história.
Sensibilizada com o filme o abracei, pois lembrei da nossa história de amor desde quando nossa amizade surgiu dentro do carro numa viagem com amigos em comum, ao lembrar do inicio de nossa história até hoje, vi quantas coisas passamos juntos, evoluímos... enfim e abraçados comecei a chorar...
Ele também tocado pelo filme começou a chorar também (por essa não esperava), só que motivado pela parte que não pensei (uma continuação),  pois ele nos imaginou idosos juntos e olhando nossa história.
E aí ficamos um tempo juntos rindo e ao mesmo tempo chorando, que imagem linda e gostosa! Choros de alegria!
Essa questão de histórias de amores no filme realmente nos sensibilizou...

A IMPORTANCIA DA ESCRITA CRIATIVA: UM OLHAR ARTETERAPEUTICO SOBRE O FILME “O CARTEIRO E O POETA”.

 

Procura da Poesia


Carlos Drummond de Andrade


"...Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.


Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?..."



     Mário, um homem diferente daqueles que habitavam na pacata ilha da Itália. Ilha enganada pelos políticos, ilha povoada por moradores na sua maioria de analfabetos e pescadores. Um povo conformado e um homem diferente que sonhava com um lugar diferente daquele. Simples, espontâneo e com sonhos.
      A ilha estava para receber um famoso poeta do Chile, que resolveu ir para lá por causa da ditadura em seu país. O noticiário que anuncia chama a atenção de Mário, pois por ser poeta, ele mexia com o imaginário feminino e atraia muitas mulheres, pois o poeta é nada mais que um homem sensível que é afetado pela poesia e com ela afeta seu próximo.
     Mário sobre pressão do pai vai à busca de um emprego e consegue o de carteiro exclusivo do poeta Neruda. O que realmente iria fazer a diferença em sua vida não eram as gorjetas que ia ganhar, Mário sabia que seu ganho poderia ser maior com o poeta, pois almejava conquistar as mulheres.
"Quando você vai até um mestre, você o olha do ponto de vista de sua mente. Se as coisas se encaixam, você fica feliz; você começa a se apegar. Mas isso não vai te ajudar -- porque as coisas se encaixam, isso vai fortalecer o mesmo estado mental que você trouxe consigo. Se por acaso você cruzar com um mestre... verdadeiro, nada irá se encaixar. Ele vai perturbar todas suas idéias sobre como um mestre deve ser; ele vai te sabotar. Ele vai te tirar todas suas expectativas. Ele vai te frustrar e te decepcionar de todas as formas possíveis -- porque essa é a única forma do trabalho real começar. E se você ainda conseguir ficar com esse mestre, então... Então você acordará."(OSHO)

     Mário aproveita-se do cargo para se aproximar como amigo do poeta para assim aprender como obter esse sucesso com as mulheres. O carteiro via que as cartas que Pablo recebia eram de mulheres e resolve ser poeta, começando a ler sobre as poesias de Neruda. Pablo a principio não dá muita atenção, até porque sua motivação não estava baseada em sentimentos e sim no interesse com as mulheres.
      Mário chegava a casa do poeta de uma forma muito sensível, sutil parecendo não querer atrapalhar o processo criativo, ele dava importância ao ato de criar. Numa dessas vindas, percebeu que Pablo tinha uma relação intensa com sua esposa.
   A ida do poeta aquela ilha sem novidades, influenciou com grande importância a escrita na vida do carteiro, era a mudança que Mário tanto desejava, pois mudaria a si mesmo, sua forma de ver o mundo e tudo mais ao seu redor. O que o encantava não era o homem poeta, mas o efeito de suas ferramentas, as palavras. O quanto o ouvir aquelas poesias lhe trazia algo de novo (o encontro com ele mesmo).
O Ser Criativo
Mário: “Como me torno poeta?”
Neruda: “Vá caminhando pela baía e observe tudo”.
     "Você quer dizer que o mundo todo, o mar, o céu com a chuva, as nuvens... o mundo todo é, todo ele, metáfora de alguma outra coisa?"
     E assim começa o verdadeiro ofício de Mário.
     Mário não tinha conhecimento técnico ou teórico sobre a construção da poesia, inicialmente sente dificuldade em colocar no papel sua auto expressão, mostrando assim seu bloqueio criativo na poesia que sonha fazer, mas sempre observou as coisas e isto o auxilia na intuição da construção da poesia, de pequenas coisas, de observar a beleza que a ilha tem, pois já tinha imaginação e sensibilidade (o saber sensível) o suficiente para servir de base poética.
“...escrever para compreender a si mesmo, pois as palavras guardam em sua essência imagens diversas, que podem surgir em associações livres, produtos da singularidade e da subjetividade de cada um.”(PHILIPPINI, p. 111)
     Mário se apaixona e através do encantamento sente a necessidade e motivação para  expressa-se, tornando-se um homem livre, colocando para fora suas questões emocionais, seu psiquismo, seu eu verdadeiro, chamado por Jung de Self e então com a motivação que o poeta considera certa dispõe-se a ajudá-lo.  Agora sim, Mário está realmente na trilha do seu caminho tornando-se poeta. Sua espontaneidade, sua simplicidade facilitam em sua escrita poética, escrita criativa, onde encontra um fluir que lhe traz prazer e expressão, ganhando asas para voar onde sua imaginação o levasse. Aprende o que é e a importância da metáfora na poesia e através dela começa a expressar-se ao ponto de ganhar quem desejava, Beatrice, sua amada. Com a metáfora podemos trabalhar a relação do inconsciente e consciente de forma lúdica com os significados e com a subjetividade.
     Neruda admira a potencialidade criativa de Mário chegando até mesmo a pedir sugestões para novos poemas. 
     Albert Einstein disse certa vez que “a imaginação é mais importante que o conhecimento”. Através desta expressão poética, Mário passa a trilhar seu caminho de individuação, tem sua vida modificada, com outro sentido. Vera Lucia Paes de Almeida diz que o processo de individuação é um processo poético e envolve um constante encantamento com a vida. Este encantamento, segundo a autora, provém de um contato com o invisível, com o inconsciente. Para ela, fazer a ligação entre o visível e o invisível é manter a conexão ego-self; é encontrar no cotidiano o significado simbólico que torna cada sujeito único e especial. Há algo de fundamental nesse contexto: a relação entre homem e mulher fica exclusivamente mediada pela linguagem. É como se o carteiro pudesse dizer: "Só a metáfora atinge a mulher". 
“Quem, eventualmente, poeta não é, cria o quê? Se alguém não tem mesmo nada para criar, pode talvez criar a si mesmo”. (C.G. Jung)
     No processo de individuação Mário começa a compreender a si mesmo, a desenvolver seus potenciais, a sua autoestima e sua relação com as pessoas torna-se mais harmoniosa e autêntica. Ele não tem mais vergonha de ser quem ele é, sente-se valorizado, amado. O antigo Mário que estava acostumado a não reagir às injustiças, como na cena em que Neruda descobre a falta água na ilha e pergunta ao carteiro porque eles (a comunidade) não protestavam contra isso e ele respondeu: “E dizer o quê?” modifica agora sua postura a partir do seu encontro com a poesia. Um pouco mais tarde no filme, ao observar compradores negociando com pescadores por um preço mais baixo, Mário interfere, dizendo que eles parem de barganhar com os pobres, que barganhem com quem tem mais do que eles.
     Assim, podemos perceber que um novo homem estava sendo construído, sendo transformado em vários aspectos de sua vida: afetiva, intelectual, social...
     Beatrice e Mário se casam e Neruda é o padrinho de seu casamento. Neruda volta para o Chile. Mário e os moradores da ilha passam bastante tempo esperando uma carta pessoal do poeta chileno, mas esta não chega.
“A palavra é uma isca para pegar aquilo que é “não palavra” e quando conseguimos, a palavra cumpriu sua missão...” (Clarice Lispector)
     Mário, então, grava uma fita para Pablo, onde descreve os seus lugares prediletos da ilha (interação entre o campo simbólico de imagens e palavras), como Neruda o havia pedido certa vez, e ele apenas conseguia dizer o nome de sua amada Beatrice. Mário concretiza a sua obra poética ao gravar a fita para o Pablo Neruda, descrevendo os sons e as imagens da sua ilha. Sua forma particular de ver e viver nesse lugar.
     Mário, inspirado pelo Pablo Neruda, envolve-se com o movimento comunista, mas, ao que o filme indica, ele se envolve como poeta, pois vai à manifestação política para declamar o seu primeiro e único poema (“Canção para Neruda”), mas acaba morrendo num tumulto causado pela repressão policial, antes mesmo de ler o poema.
     O filme dá um salto no tempo e mostra a volta de Neruda à ilha, anos depois, com o filho de Mário e Beatrice (Pablito) já crescido. Neruda finalmente recebe de Beatrice o valioso presente que Mário havia deixado: sua descrição peculiar e sensível das belezas da ilha.
    
     Toda palavra é símbolo e foi através da palavra em forma de poesia que o carteiro experimentou o poder de transformar-se pelo símbolo aspectos de sua vida, transformando assim sua essência de uma forma bem natural. A salvação da palavra para o encontro com o seu SELF, criando poesias para viver situações, concretizando vários aspectos subjetivos e biográficos incluindo seus aspectos universais como os arquétipos, que precisam vim à tona para serem resolvidos, aceitados e trabalhados, como o uso do material plástico em um atendimento em arteterapia.

“E foi naquela época...
A poesia chegou me procurando.
Eu não sei, não sei de onde ela veio,
se de um inverno ou de um rio.
Eu não sei como nem quando.
Não, não eram vozes,
não eram palavras, nem silêncio;
mas de uma rua eu fui chamado abruptamente
dos ramos da noite, dos outros,
no meio de um tiroteio violento,
e num retorno solitário lá estava eu
sem um rosto... e ela me tocou.”
Pablo Neruda

*Indicado pela professora de Escrita Criativa da Clínica Pomar Márcia Vasconcellos em um dos seus trabalhos passados para turma da PG 12, do qual pertenço.





sábado, 17 de dezembro de 2011

DEUS, SÍMBOLO DO ATO CRIADOR NA ARTETERAPIA

" JUNG e CAMPBELL ESCREVERAM MAIS SOBRE A SIMBOLOGIA DA BIBLIA DO QUE EU..."
                                        Roberta Burlamaque.

"No princípio criou Deus os céus e a terra." Genesis 1.1

     O inicio do livro de  Genesis nos relata que Deus através do nada, ou do caos como os arteterapeutas chamam, deu A LUZ A SUA CRIAÇÃO. Uma criação quando plasmada, ABRE CAMINHOS PARA OUTRAS CRIAÇÕES, tudo através do PODER DA PALAVRA CRIATIVA  do DEUS que o livro da bíblia relata. E alias que linda criação, porque a natureza por si só, obra de suas mãos é linda demais!!
Mas sua ação criativa não para por aí... Deus resolve fazer o homem:


"E formou o SENHOR Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente." Gênesis 2:7


Deus faz o homem do barro da terra e lá no livro de Jeremias isso fica bem claro...

A bíblia relata que  a palavra desse Deus veio ao seu profeta Jeremias, dizendo:
Levanta-te, e desce à casa do oleiro, e lá te farei ouvir as minhas palavras.
E desci à casa do oleiro, e eis que ele estava fazendo a sua obra sobre as rodas,
Como o vaso, que ele fazia de barro, quebrou-se na mão do oleiro, tornou a fazer dele outro vaso, conforme o que pareceu bem aos olhos do oleiro fazer.
Então veio a mim a palavra do SENHOR, dizendo:
Não poderei eu fazer de vós como fez este oleiro, ó casa de Israel? diz o SENHOR. Eis que, como o barro na mão do oleiro, assim sois vós na minha mão, ó casa de Israel.
No momento em que falar contra uma nação, e contra um reino para arrancar, e para derrubar, e para destruir,
Se a tal nação, porém, contra a qual falar se converter da sua maldade, também eu me arrependerei do mal que pensava fazer-lhe.
No momento em que falar de uma nação e de um reino, para edificar e para plantar,
Se fizer o mal diante dos meus olhos, não dando ouvidos à minha voz, então me arrependerei do bem que tinha falado que lhe faria.
Ora, pois, fala agora aos homens de Judá, e aos moradores de Jerusalém, dizendo: Assim diz o SENHOR: Eis que estou forjando mal contra vós; e projeto um plano contra vós; convertei-vos, pois, agora cada um do seu mau caminho, e melhorai os vossos caminhos e as vossas ações".
Jeremias 18:1-11
Deus utilizou do pó da terra, do barro PORQUE QUERIA (E QUER) MODELAR O HOMEM, MODELAR A SUA IMAGEM E SEMELHANÇA. Isso fica bem claro no texto de Jeremias onde Deus é o próprio OLEIRO e o VASO, O HOMEM EM SUAS MÃOS. Assim como quem modela, projeta para o material o que deseja.
Mas o barro é um material que pode ser quebrado e reconstruído de novo, porque o BARRO É FLEXÍVEL, MALEAVÉL e para a argila se TORNAR UM VASO É ESSENCIAL E ESTRUTURADOS AS MÃOS DO OLEIRO, ele ele QUEM CONDUZ SEU FORMATO E ESTRUTURA, QUEM TRABALHA OS DETALHES, QUEM DESFAZ E REFAZ.
É nesse sentido que o texto simboliza a vontade de Deus para o homem.


"Sabia que a religião é uma linguagem?
Um jeito de falar sobre o mundo…
Em tudo, a presença da esperança e do sentido…

Religião é tapeçaria que a esperança constrói com palavras.
E sobre estas redes as pessoas se deitam.
É. Deitam-se sobre palavras amarradas umas nas outras.
Como é que as palavras se amarram?
É simples.
Com o desejo.
Só que, às vezes, as redes de amor viram mortalhas de medo.
Redes que podem falar de vida podem falar de morte.
E tudo se faz com as palavras e o desejo.

Por isto, para se entender a religião, é necessário entender o caminho da linguagem.
“…e havia trevas sobre a face do abismo e um vento impetuoso soprava a superfície das águas.
E disse Deus:  ‘_ Haja luz.’  E houve luz…”
“No princípio era a Palavra.”

ALVES, Rubem. O Supremo dos Oprimidos; pg. 5 - Ed. Paulus; 1987.


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

MOSAICO: UM BREVE COMENTÁRIO.

 
 O mosaico é um processo restaurador arteterapeuticamente, principalmente com  indivíduos que de alguma forma estão “destruídos a cacos”, tendo que reconstruir a vida de uma forma diferente, convivendo com suas seqüelas, ultrapassando suas dificuldades e se readaptando as mudanças do seu dia-a-dia.

     Materializando assim suas dificuldades, dores e reconstruindo arteterapeuticamente suas idéias e emoções desordenadas, organizando seus conteúdos emocionais, sua nova imagem corporal, caminhando para o auto conhecimento a partir da soma de suas partes e caminhando construindo assim  para sua auto estima e seu caminho de individuação.

     Começando pela desconstrução, movimento este que produz uma energia na sua maioria agressiva por meio de movimentos de martelar, quebrar... enfim descargas de energias, depois a busca e projeção de conflitos, memórias e potenciais reprimidos e enfim a construção do algo novo a partir daqueles cacos reunidos, movimento que requer perseverança para um novo conteúdo, formando uma nova estrutura de símbolos e seus significados.

     A técnica expressiva do mosaico através dos cacos atuará não só com a matéria ali manuseada, mas também atuará com a reorganização do caos que estava fora do controle psíquico e reconstrução de conteúdos internos reprimidos, resignificando afetos, reencantando o olhar sobre a beleza do material e sobre si mesmo e transformando emoções, reutilizando, integrando, unindo, ordenando e caminhando assim para seu equilíbrio emocional, no enfrentamento para nova etapa da vida a ser com suas mudanças ocorrentes.Trabalhando o desenvolvimento cognitivo e motor.
Referencias Bibliograficas
Elizardo, Maria Helena de Mello. Artigo "Um Caminho entre Cacos Coloridos" in -Arteterapia: Metodos, Projetos e Processos / Organizado por Angela Philippini. Ed. Wak, 2ª ed., p.91-97,2009.

Philippini, Angela. Linguagens, Materiais Expressivos em Arteterapia: Uso, Indicações e Propriedades. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2009.

sábado, 29 de outubro de 2011

O Olhar Arteterapeutico Sobre a Dança


Este vídeo surgiu de um trabalho na pós graduação do qual a professora Eliana Nunes solicitou um
"olhar arteterapeutico" sobre algum grupo que usasse a arte.
Então fui na minha igreja: Igreja do Nazareno em Nova Iguaçu e colhi o material para este vídeo. Que daqui a algum tempo vai passar por mais transformações.
O vídeo é composto por uma introdução explicativa, a entrevista com a grupo e  a filmagem de sua apresentação.
O grupo escolhido foi um grupo feminino evangélico que se utiliza da dança espontanea na maioria das vezes como expressão de adoração.Os relatos mostram como a dança por si só já transforma a vida de quem a utiliza.

OLHAR ARTETERAPEUTICO SOBRE A DANÇA:

Um Caminho Dançante

     Na pré-história da humanidade, a dança era a forma do ritual religioso. O homem imitava as formas e movimentos da natureza com o desejo de chegar a perfeição. A dança simbolizava a harmonia das leis da terra e do céu. O homem integrado com a natureza dançava os ritmos cíclicos da vida. O ser humano dançava porque era sagrado, por isso vivia ritualizando e celebrando passagens de ciclos.
     A história de Davi na bíblia dançando “com todas as suas forças diante do Senhor”, enquanto conduzia o séqüito que trazia a arca de volta para Jerusalém, é vista por muitos como a sanção bíblica mais convincente para a dança religiosa no contexto do culto divino.
     Para todos os povos de todos os tempos, dançar era expressar através do corpo e de seus movimentos significativos, as experiências vitais que ultrapassam os limites da palavra, do discurso verbal. Na dança, a manifestação das emoções é sempre vista como um ato sagrado, aproximando o indivíduo a sua comunidade das forças naturais transcendentes: Deus, o Amor e a Morte, por exemplo.
     Através da música e da dança o povo constrói a sua história, por meio de movimentos, gestos, de cantos, de ritmos, e de melodias, utilizando manifestações de voz e de corpo simbólicas. Quando um povo está em contato com seu ser interior, ele está em contato com o sagrado, então ele dança e onde o homem dança, a dança é sagrada. Está ligada ao trabalho, a festa e a religião. O homem antigo dançou em todos os momentos solenes da sua existência. Dançar era inseparável do viver cotidiano, uma arte que nasceu do fogo inicial do entusiasmo e cresceu como expressão coletiva.
“E Davi dançava com todas as suas forças diante do Senhor;... Mical, filha de Saul, estava olhando pela janela; e, vendo ao rei Davi saltando e dançando diante do Senhor....”( II Samuel 6:14 e 16)
     As danças sempre estiveram na história da humanidade – nos nascimentos, plantio, colheita, chegada das chuvas, primavera, morte e refletiam a necessidade de comunhão, celebração e união entre as pessoas.
     No Brasil, a maioria das danças tem origem religiosa e permanecem ligadas as festas católicas, evangélicas, aos cultos afro-brasileiro e às cerimônias indígenas. São expressões essencialmente ligadas às vidas das comunidades, aos seus ciclos festivos e aos calendários como folias, carnaval, festa junina, folclore e etc.
      A dança estimula o sentimento coletivo, traz comunhão aos seres vivos,  a solidariedade social e o espírito de cooperação, é uma consolidação de identidade, de cultura, de costumes e de tradições, é o poder de transcendência da comunidade. Reflexão do trabalho em equipe, desperta da criatividade, a integração dos hemisférios cerebrais, ativação corporal e uma conexão com seu eu superior.
     A dança sagrada é porque permitem que os participantes entrem em contato com sua essência, com seu Eu Superior, no momento deste contato, temos a união do corpo (matéria) com o espírito. Dançando, nosso corpo se expressa através do movimento e aquieta a mente, aproximando pessoas e promovendo uma integração física, mental, emocional e espiritual.
A Dança e a Psicologia Junguiana
     O corpo esta sempre descarregando sentidos, da vivencia dos aspectos expressivos e integrativos representando símbolos através da expressão corporal. O movimento é a expressão particular de cada pessoa, revelando involuntariamente, suas mais íntimas características psíquicas. Ele traz consigo, invariavelmente, aspectos conscientes e inconscientes, culturais, sociais, afetivos, simbólicos e assimila informações. O corpo, ao contrário do clichê, nome de livro, não só fala. O corpo também tem memória, escuta e elabora, pensa, simboliza, identifica sentidos, aquilo que de alguma forma tem valor para o indivíduo.
     Considerando a experiência sensível do movimento uma oportunidade para a elaboração interna e dessa elaboração desenvolver o conhecimento das próprias habilidades, de seu repertório expressivo e, simultaneamente, integrar processos psíquicos ainda não conscientes, poderemos destacar que o corpo compreende à sua maneira como integrar e expressar esses processos. Ele tem uma linguagem própria que foge de códigos pré-estabelecidos ou racionais.
     O princípio essencial da dança como técnica expressiva é a autonomia do indivíduo em investigar-se em movimento de tal forma que identifique a si mesmo, ou seja: descubra seu corpo e seus aspectos sensíveis e simbólicos.
     No desenvolvimento desse trabalho identificamos que, articular o corpo, às emoções, às imagens simbólicas, ao mesmo tempo em que o movimento é buscado em sua forma mais crua, ele, o corpo, transborda elementos que se alimentam mutuamente: significados se desdobram em movimentos, movimentos resgatam significados.
     Para Jung o processo criativo consiste (até onde nos é dado segui-lo) numa ativação mais profunda do inconsciente e numa elaboração e formalização na obra acabada. À camada mais profunda do inconsciente, nesse contexto, C. G. Jung refere-se aos arquétipos, marcas do inconsciente coletivo partilhadas pela humanidade e que resgata no indivíduo um senso de unidade, de ter um lugar no mundo. Para ele, a arte seria então, uma forma de tornar mais acessível e consciente esse processo de percepção de elementos não facilmente verbalizáveis e não cognitivos; forma de conhecimento mais complexo e total por ser vivencial
     Os conteúdos simbólicos podem, pela vivência poética da dança, ser requisitados para um diálogo sincero de aproximação, de acolhimento e de transformação. O resultado é: equilíbrio emocional, equilíbrio corporal.
     Ainda segundo Jung, nossa meta como seres humanos é a individuação, um processo natural de amadurecimento.  É o caminho da plenitude, do encontro do Self. Quando Jung fala de individuação, refere-se ao caminho que é orientado pelos símbolos arquetípicos que emergem espontaneamente como na dança, de acordo com a natureza do indivíduo.
     Todos nós temos nossas identificações simbólicas com algum aspecto comum à humanidade, esses momentos de identificação não são mensuráveis. A arte possibilita esses momentos de encontro.
     Já que desde os primórdios da humanidade é através do movimento (corpo expressivo) que o ser humano percebe, identifica, explora e relaciona-se com o mundo, com o cosmos, com o outro e consigo mesmo.
A Dança Criativa é uma exploração livre do movimento criativo de cada pessoa. Tem uma componente de aprendizagem, através do jogo, que desenvolve as capacidades psico-motoras, bem como a cooperação na formação individual e da personalidade de cada um. Atua de forma descontraída, para que cada cliente dance livremente e se sinta capaz de ajudar na construção de uma coreografia.
A Dança e a Bíblia.
 O cristianismo tem sua origem no judaísmo e por isso alguns costumes, como a dança e sua importância transcendeu a história e hoje continua tendo sua importância com o mesmo sentido: adorar ao seu Deus. A bíblia está repleta de exemplos onde a dança estava presente: a filha de Jefté dançou para celebrar a vitória de seu pai sobre os amonitas (Juízes 11:34); mulheres dançaram para celebrar a matança dos Filisteus por Davi (I Samuel 18:6; 21:11; 29:5) e Miriam e as mulheres dançaram para celebrar a Deus a vitória sobre o exército egípcio (Êxodo 15:20).  A dança de Miriam pode ser vista como religiosa (em adoração ao seu Deus), mas havia também danças em relação às festividades anuais, elas eram celebrações sociais de eventos religiosos.
A dança na Bíblia era uma celebração social de eventos especiais, como uma vitória militar, um festival religioso, ou uma reunião familiar. Dança era realizada principalmente por mulheres e crianças.
     O grupo escolhido é composto por mulheres evangélicas, que tem a bíblia como um referencial para suas vidas e para a ministração da dança.
GRUPO KADOSHI: Expressando Adoração Através dos Movimentos
     Kadoshi significa santo, santidade no hebraico, sendo santo uma qualidade de Deus e santidade uma separação, dedicação total a Deus. O grupo feminino se formou este ano com o objetivo de ser uma ferramenta, um departamento ou ministério, como chamam, para adorar, honrar a Deus e alcançar, tocar vidas através da dança, de sua expressão corporal.
    O grupo se originou este ano e permanece até hoje no seu lugar de origem, a Igreja do Nazareno Central em Nova Iguaçu. Esta igreja tem outros grupos de dança, porém a escolha do Kadoshi foi principalmente pelo seu foco na Dança Criativa, espontânea em que as integrantes interpretam de forma espontânea como querem interpretar as músicas, de acordo com suas vivencias e simbolismo.
    O grupo hoje é formado de sua líder e mais duas integrantes, coincidentemente casadas, com suas famílias na mesma igreja. Duas integrantes com experiências transformadoras com a dança. Uma relata que ainda é uma mulher tímida, porém melhorou um pouco, mas o que realmente a surpreende é que apesar de ser muito tímida quando esta representando, dançando, não vê ninguém, suas dificuldades neste momento se apagam e ela dança livremente, com muita segurança, se surpreendendo até hoje, como se ninguém estivesse diante dela. R., relata que a dança trouxe além da surpresa, prazer para sua vida.
    A outra integrante E., relata que a dança sempre foi vivida com muita intensidade para ela em seu meio social, mas quando passou a participar deste grupo de dança da igreja teve sua vida transformada, pois a dança a fez se tornar uma mulher mais segura, com auto estima, se sentindo capaz, o que antes não sentia sobre si mesmo. Hoje voltou a estudar, melhorou sua relação com seus filhos, com ela mesma se arrumando, se cuidando mais e com tudo a sua volta.
Na verdade o que ambas relatam tem tudo haver com as personagens centrais das músicas que ministram. R., a tímida é a personagem principal de uma música que pede a Deus para remover sua dificuldade, um trecho da música diz “transforma minha vida meu estado” e a outra música que dançaram, E., era a personagem principal e esta teve sua vida transformada, se tornando uma mulher de auto estima, que dá bons frutos, como mostram algumas fotos.
    O grupo usa muito véus coloridos. A líder informou que há todo um simbolismo na escolha da cor das roupas e do véu. Cada cor simbolizando uma coisa com o qual a música está ministrando.
 NAGEM, Denise. Danças Circulares Sagradas. Disponível em:<http://elcaminanteblanco.es.tl/Dan%E7as-Circulares-_-Denise-Nagem.htm%3E.Acesso em 01 de outubro de 2011.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

PROCESSO ARTETERAPEUTICO

      Encontro terapêutico em que o cliente será convidado no “setting” de arteterapia a se expressar através de instrumentos necessários para viabilizar seu processo de promoção, preservação e recuperação de saúde. Pode ser feito individualmente ou em grupo, o arteterapeuta desempenhará o papel de facilitador deste processo de individuação do cliente.

O caminho criativo em arteterapia tem o propósito de concretizar, dar forma e materialidade ao que é intangível, difuso, desconhecido ou reprimido. Sonhos, conflitos, desejos, afetos, energia, psíquica que é bloqueada e precisa liberar-se e fluir, ganhar concretude e poder plasmar e configurar símbolos, que assim, cumprem sua função de comunicar, estruturar, transformar e transcender. (Philippini, 2008, p. 65)

       O cliente traz diretamente do seu inconsciente, imagens que reproduz através de diversos matériais expressivos. No início do processo arteterapeutico é comum o uso da colagem, pois é um material organizador, estruturador, integrador para o cliente que esta começando.   Aos poucos os outros materiais vão sendo usados.
     Depois de produzido o não verbal, o arteterapeuta conduz o cliente à escrita criativa, a leitura da sua produção, não basta apenas produzir imagem (pois não é apenas um trabalho plástico de arte, vai, além disso...), tem que mergulhar nele, se aprofundar, auxiliando o resgate, o desbloqueio daquele conteúdo expresso, plasmado, na imagem.

       Por para fora, trabalhar as imagens que são conteúdos internos carregados de energia psíquica, produzem: o lidar melhor com seus sintomas e situações de stress, sentimentos, sensações, idéias inovadoras, poder de encontra-se com autoconhecimento, poder de aprofundar, poder de criar, favorecendo mudanças, descobertas, transformações, auto estima, produzindo assim significados e resignificando a elaboração deles.

      Todo esse processo dispõe de recursos físicos, cognitivos e emocionais bem como aprendizagem de habilidades por meio de experiências terapêuticas. A liberação de conteúdos internos conflitantes permite que o cliente volte ao seu equilíbrio, se recompondo e reconstruindo o seu mundo interior.

      O processo arteterapeutico trilha o processo de individuação do sujeito, que possibilita e desenvolve potenciais latentes e de auto conhecimento. Ao desenvolver seu potencial, pela aquisição de liberdade e de auto confiança o cliente torna-se capaz de superar seus próprios problemas, enquanto segue seu caminho de transformação psíquica e mental.

     O caminho da alta pode ser percebido pelo arteterapeuta, uma vez que neste processo o cliente passou por grandes transformações, amadurecimento, aprendizado sobre si mesmo que geraram mudanças sendo neste processo. O cliente também pode dar sinais de sua alta, uma vez que manifesta este seu desejo de ganha-lá ou caso tenha a necessidade de sair, poderá conversar sobre isso com seu arteterapeuta e será trabalhado para um desligamento.



Referencia Bibliográfica:

PHILIPPINI, Angela - Cartografia da coragem: Rotas em arteterapia - Rio de Janeiro: Pomar, 2000.